segunda-feira, 30 de abril de 2007

A Prisão da Mentira

São de Jesus as palavras: "conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará."

Quando pensamos em verdade, é fácil caír no erro de pressupor que esta nos prenderá a qualquer tipo de conceito ou forma de pensar estanque, que venha a retirar-nos a liberdade de pensar, agir ou sentir. Este é o tipo de pensamento que mais frequentemente nos é imposto nos tempos em que vivemos. A afirmação de verdade (factual ou não) torna-se assim um instrumento condicionador das liberdades individuais; do direito que cada um tem de crer no que melhor lhe parecer, e que muitas vezes, para não dizer todas, é antes o que mais lhe convém.

Vamos por partes:

1. A Prisão da Verdade.
Grande parte, da argumentação corre baseada nesta relação, verdade/liberdade, e nas implicações da primeira sobre a segunda. Supondo que 'x' é verdade e/ou verdadeiro, acima de toda a disputa, somos forçados a "viver", pensar e até sentir segundo 'x'. Deixa de ser uma questão de gosto, preferência ou opinião; 'x' torna-se auto-evidente e não disputável, assume o lugar de premissa e não de conclusão, tornando-se condição suficiente num argumento. Para os "lógicos" fará sentido o que disse, para o "comum dos mortais", imaginem que 'x' é igual a '2+2=4'. Não me parece que algum de nós tenha vontade de discutir isso com o professor de matemática, nem com o merceeiro da esquina...:)
Voltando ao assunto, então se 2+2=4, então 2+2=4
+1=5, por muito incoveniente, por qualquer razão, que me seja aquele resultado (4), estou preso a ele. Não tenho a liberdade de escolher que 2+2 seja 'y' em vez de 'z'.

2. Prisão de mentira
De facto quem nos aprisiona não é a verdade, mas a mentira.
Começando por uma verdade: algo não pode ser verdadeiro e falso ao mesmo tempo. Assim se 'x' for falso, conduzir-nos-à inevitavelmente a um resultado falso. Voltando ao exemplo inicial se 'x' é igual a 2+2=5, então 2+2=5+1=6. O que se demonstra aqui é que, pelo menos tal como a verdade nos 'fixa' a um resultado, de igual forma a mentira o faz. Mas a questão é que, esta (prisão da mentira) traz outras consequências, sendo 'x' premissa irá inevitavelmente influenciar toda a argumentação subsequente, "aprisionando" todas as conclusões que daí se derivem num resultado falso. E uma vez que algo não pode ser verdadeiro e falso ao mesmo tempo, encontraremos (algures pelo caminho), depois de forçado o argumento, uma contradição formal, que finalmente nos poderá libertar do enredo de falsidade em que a premissa errada nos colocou.
Para além do que acima expus, convém salientar que maior e mais danoso será o erro quando 'x' se estabelece como verdadeiro, sendo no entanto falso disputável ou duvidoso (Cientificamente e ou Logicamente falando), pois só muito mais tarde se perceberá que existe o erro.

3. A Liberdade da Verdade.
Chegamos então ao ponto inicial desta questão, quem faz o quê? Isto é, sendo verdade e mentira opostas entre si, se uma prende a outra liberta, e vice-versa.
Não convém confundir valores, assim o valor de verdade deve ser distinto do valor de liberdade.
Tal como os factos são, independentemente de neles crermos, ou não, ou de os nossos sentidos os perceberem, ou não. Já vimos que a verdade nos vincula sem se importar se concordamos que assim seja ou não. A verdade não pede opinião.
Quanto á liberdade, esta é um valor próprio do Homem, que lhe faculta o poder escolher, decidir, pensar, sentir etc, sem qualquer constrangimento ou imposição (sei que muito mais poderia ser dito acerca da Liberdade, mas não me parece que tivesse qualquer influência no argumento).
Desta forma, e decorrente da argumentação, essa liberdade de escolha é retirada ao Homem a partir do momento em que uma verdade ou uma mentira se lhe impõem.
Mas o que será de facto prisão? Viver uma realidade ou uma ilusão? Quem está realmente preso, aquele que conhece os seus limites e potencialidades reais, ou aquele que está errado quanto ao que pressupõe sobre a realidade, perseguindo assim ideais ilusórios? Não me parece que a realidade seja uma prisão, pelo contrário, é antes libertador o conhecimento daquilo que de facto é. Quando vivemos iludidos quanto ao que quer que seja, o conhecimento, e o reparar desse erro, tem um efeito factual libertador, veja-se o exemplo que nos dá a história da águia que pensava que era uma galinha* (conto-a no fim do artigo para que aqueles que a conhecem bem possam seguir o racicocinio).

Este é de facto o assunto base nas palavras de Jesus. Enquanto o Homem 'viver' numa ilusão, está inevitavelmente enredado numa teia de ilusão e falsos objectivos, derivados desse mesmo paradigma inicial (errado). Sem um entendimento claro da sua razão de ser, o Homem está condenado a viver prisioneiro do mito da pretensa libertação de Deus. É com Deus, e não sem Ele, que o Homem encontra a liberdade de ser 'aquilo' que é a sua razão de existir, a partir do esclarecimento do erro e sua reparação. Assim entendemos que nunca deixarão de ser "acidentais", aqueles que professam ser todo o universo um derivado da casualidade, vivendo "amarrados" a uma "lei" que a física não conhece e até refuta; do caos não deriva a ordem, mas o inverso (entropia). Parece-me ser esta uma postura de aprisionamento, não a um facto mas a uma preferência, que, sendo errada, constrói todo um edificio em torno de si, de erro atrás de erro para a tentativa de justificação, ad eternum, do erro inicial. Desta forma, a verdadeira liberdade advém da descoberta da verdade acerca do que quer que seja.
Jesus se apresenta como a Verdade, que a ser conhecida, trará ao ser humano a verdadeira liberdade de viver segundo um propósito maior e mais elevado que ele mesmo. É o criador quem dá sentido á obra e não o inverso.
Como conclusão, e porque sei o que é estar enganado, e o sentimento de decepção que lhe sucede, resta-me pedir desculpa àqueles a quem destruí o sonho de serem descendentes de uma "explosão". Mas há algo maior e mais excelente para cada um de vós agora, a possibilidade de serem livres do erro e conhecerem a verdade - Jesus Cristo.

*História da Águia
Conta-se que um certo fazendeiro encontrou uma cria de águia e colocou-a no seu galinheiro, junto com as galinhas. Com o passar do tempo esta águia foi crescendo alimentando-se e vivendo como uma galinha; bicava e esgravatava o chão, não voava. Um dia esta águia olhou para o alto e viu um grande pássaro que voava bem alto com as suas asas estendidas, e ela desejou ser como aquele pássaro e poder voar também... mas ela era apenas uma galinha. Os dias passaram, os meses também e cada vez que olhava para o céu aquela águia sentia dentro de si o desejo de voar, e aquele desejo cresceu de tal maneira que um dia ela abriu suas asas e voou. Agora todo o potencial era uma realidade. A mentira em que acreditava era passado nenhuma rede de galinheiro a podia parar, suas asas puderam se estender. (Com mais ou menos prosa a história é assim)


sábado, 28 de abril de 2007

Verdade?! ou nem por isso!

Muitas vezes se tem dito acerca de algo que, o seu valor de verdade, depende do ponto de vista (perspectiva), ou depende da opinião de cada um, ou ainda que depende das circunstâncias (tempo, lugar, modo etc.).
Desta forma quando afirmamos algo, podemos inferir, legitimamente, que a nossa afirmação (seja ela qual for ou acerca do que quer que seja), será sujeita a um escrutínio para o qual não foi preparada. Não quero com isto dizer que devamos aceitar, ou desejar que aceitem, tudo o que dizemos opu ouvimos sem um mínimo de crítica (saudável, entenda-se). Mas de facto é nesta altura que as dificuldades surjem, pois invariavelmente temos que chegar ao ponto mais fundo da questão: Existem, ou não, verdades absolutas?
Para poupar os corações sim ... e não. Isto é, depende do ponto de vista, das circunstâncias ou da opinião de cada um.
Não, não quero ser cómico ou irónico, mas parece-me que este facto é incontornável, não por ser verdadeiro que a Verdade seja relativa, mas porque para aqueles para os quais a verdade depende de qualquer outro factor que não lhe seja inerentemente próprio, sempre olharão dogmáticamente para qualquer afirmação, que postule veracidade independente de outros factores. Sendo que o dogma aqui é exactamente o que se queria aniquilar. Posto isto, não se podem desfazer dogmas acerca da verdade sem dogmatizar.
Para aliviar o peso da argumentação, pode-se dizer que o que se afirma como verdadeiro, transversalmente à realidade (ex. as verdades da lógica, os axiomas da matemática, a Bíblia ), isto é, verdadeiro em todos os mundos possíveis, é agora posto em causa enquanto absoluto, recorrendo-se ao mesmo processo que se pretende aniquilar.
Conclusão: Porque uma coisa (neste caso o processo de estabelecimento de uma verdade) não pode ser verdadeira e falsa ao mesmo tempo, porque pelo mesmo processo de estabelecimento de um valor não se pode aniquilar esse mesmo processo (requer petição de princípio), concluo que, a verdade não pode ser decidida ou estabelecida em função de variantes funcionais e, ou, convenientes (a não ser ao nível factual), e que dessa forma não há como "opinar" ou "circunstanciar" uma verdade. Por isso quando se tenta algo contra a verdade acaba-se por solidificar ainda mais os seus alicerces - II Coríntios 13;8 (Bíblia)